Entrevista | Os moderados estão fora de moda, analisa Upiara Boschi para 2020

Por: Marcos Schettini
19/11/2019 11:42
Marcos Schettini Satélite Upiara Boschi

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2004, Upiara Boschi tem despontado com uma das análises políticas mais contundentes do Estado. Jornalista há 15 anos, o formador de opinião possui visível performance nos bastidores e tem domínio do cenário eleitoral catarinense. Em entrevista concedida ao jornalista Marcos Schettini, Upiara comenta sobre o atual momento do Brasil, observa o presidente Jair Bolsonaro como autêntico e taxa mandato do governador Carlos Moisés como positivo.

Marcos Schettini: Qual Brasil você observa neste momento?

Upiara Boschi: O sistema político-partidário está em decantação. Os partidos pouco ou nada representam em termos de ideias e forças da sociedade. Em 2020 e 2022 teremos uma reaglutinação em torno de nomes e projetos. O fim das coligações para eleição proporcional vai ajudar nesse processo. Estamos nesse compasso de espera, com cada grupo tentando sair mais forte dele.

Schettini: Como 2019 começou e termina? Qual é o ritmo de Jair Bolsonaro?

Upiara: O governo Bolsonaro tem duas pautas. A racional, tocada pelo ministro Paulo Guedes, tem apoio no parlamento e no PIB. A segunda pauta é ideológica, avança sobre os costumes e sobre um suposto esquerdismo entranhado nas instituições. Ele precisa manter ambas as pautas - embora a segunda seja mais para manter acesa a polarização - porque conservador nos costumes e liberal na economia pode aparecer uma dezena de candidatos, mas Bolsonaro é o único que “vai livrar o Brasil do comunismo”.

Schettini: Sua avaliação da personalidade do presidente da República é de autenticidade ou molda-se conforme as circunstâncias?

Upiara: Minha impressão é de que o presidente é autêntico. Até demais.

Schettini: O governador Moisés nunca foi afinado com o presidente. Isso ajuda ou atrapalha SC?

Upiara: Quando alguém dizia lá em 2018 que era nítida a falta de relação entre o candidato a presidente e o candidato a governador, apanhava um bocado. Acontece. Não acho que vá atrapalhar. Moisés tem trânsito com ministros e Santa Catarina deu uma votação a Bolsonaro que não pode ser ignorada.

Schettini: O ano fecha positivo ou negativo para os governos federal e estadual?

Upiara: Moisés tem um ano positivo porque sobreviveu à desconfiança de que não teria capacidade de tocar o barco. O barco anda e ele se esforça para fazer um governo diferente. Não enfrentou crises em seu primeiro ano. Elas virão. Por enquanto, roubo a frase do Esperidião Amin em entrevista recente pra ti: um governo monotonamente coerente. O ano de Bolsonaro também é positivo porque ele conseguiu passar pelo teste da aprovação da reforma previdenciária e porque conseguiu manter aceso o “nós contra eles” da eleição. É o discurso que pode pavimentar sua reeleição.

Schettini: Por que as fake news são mais eficientes? A nação é inocente?

Upiara: Talvez porque as pessoas queiram concordar com a notícia e fake news ofereça esse conforto. O que me chama atenção e deve ser combatido é que existe uma indústria de produção desse material cujo objetivo é exatamente tumultuar o debate e dificultar a diferenciação do real e do falso. A imprensa profissional erra e nem sempre sabe se corrigir, mas quando a informação nasce falsa, seja lá com qual objetivo, não estamos falando de erros. Há método, estratégia e finalidade.

Schettini: 2020 será de Bolsonaro, Lula ou a racionalidade do equilíbrio?

Upiara: Tudo se desenha para um ano de forte polarização. Os moderados estão fora de moda.